terça-feira, 28 de setembro de 2010

Norman Finkelstein - A Indústria do Holocausto

Retirado (pelo Stefano) do livro "A Indústria do Holocausto" de Norman Finkelstein


" (…) Na verdade, o único que realmente nega o Holocausto é Bernard Lewis. Uma corte francesa até condenou Lewis por negar o genocídio. Mas Lewis negou o genocídio turco dos armênios durante a Primeira Guerra Mundial, não o genocídio nazista dos judeus, e Lewis é pró-Israel.

Por conseqüência, este exemplo de negação do Holocausto não suscitou fúria nos Estados Unidos. A Turquia é aliada dos israelenses. Mencionar o genocídio armênio é, portanto, um tabu. Elie Wiesel e o rabino Arthur Hertzberg, assim como o AJC e o Yad Vashem, se retiraram de uma conferência internacional em Tel Aviv sobre genocídio porque os patrocinadores acadêmicos, contra as advertências do governo israelense, incluíram sessões sobre o caso armênio. Wiesel também quis, unilateralmente, abortar a conferência e, segundo Yehuda Bauer, fez um lobby pessoal para que outros não comparecessem. Agindo sob ordens de Israel, o US Holocaust Council (Conselho do Holocausto dos EUA) praticamente eliminou a menção aos armênios do Museu Memorial do Holocausto de Washington, e os lobistas judeus no Congresso impediram um dia de lembrança ao genocídio armênio.

Questionar o testemunho de um sobrevivente, denunciar o papel dos
colaboradores judeus, sugerir que os alemães sofreram durante o bombardeio deDresden ou que todos os países além da Alemanha cometeram crimes na Segunda Guerra Mundial — é tudo evidência, segundo Lipstadt, da negação do Holocausto. E sugerir que Wiesel se aproveitou da indústria do Holocausto, ou mesmo questioná-lo, também é negar o Holocausto.

Lipstadt diz que as formas mais “insidiosas” de negação do Holocausto são as “equivalências imorais”: ou seja, a negação da singularidade do Holocausto.
Este argumento tem implicações intrigantes. Daniel Goldhagen argumenta que as ações dos sérvios em Kosovo “diferem, em sua essência, daquelas da Alemanha nazista apenas em escala”. Isto faria de Goldhagen “em essência” um dos quenegam o Holocausto. O fato é que, do ponto de vista político, os comentaristas israelenses compararam as ações da Sérvia em Kosovo com as dos israelenses em 1948 contra os palestinos.59 Pela avaliação de Goldhagen, então, Israel cometeu um Holocausto. Nem um só palestino jamais reivindicou isso.

"Dia Anual de Lembrança do Holocausto é um evento nacional. Todos os 50 estados patrocinam comemorações, com freqüência nas câmaras legislativas estaduais. A Association of Holocaust Organization (Associação das Organizações do Holocausto) relaciona mais de 100 instituições ligadas ao Holocausto nos Estados Unidos. Sete grandes museus do Holocausto se espalham pela paisagem americana. A peça central deste exercício de memória é o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos em Washington.

A primeira pergunta é por que existe até um Museu do Holocausto fundado pelo governo federal na capital do país? Sua presença no Washington Mall é incongruente com a ausência de um museu aos crimes no curso da história americana. Imagine os protestos de acusação de hipocrisia aqui se a Alemanha construísse um museu nacional em Berlim para relembrar, não o genocídio nazista, mas a escravidão americana ou o extermínio dos índios americanos.

O planejador do Museu do Holocausto escreveu: “Ele tenta meticulosamente evitar qualquer tentativa de doutrinação, a partir da manipulação de impressões ou emoções.” De sua concepção a sua conclusão, no entanto, o museu se atolou na política.
No início da campanha de reeleição, Jimmy Carter iniciou o projeto para
agradar os contribuintes e eleitores judeus, irritados com o reconhecimento, pelo presidente, dos “direitos legítimos” dos palestinos. O diretor da Conference of Presidents of Major American Jewish Organizations, rabino Alexander Schindler, deplorou o reconhecimento de Carter dos direitos humanos palestinos como uma iniciativa “chocante”. Carter anunciou os planos para o museu durante a visita do
primeiro-ministro Menachem Begin a Washington e em meio a uma quente batalha no Congresso sobre a proposta do governo de venda de armas para a Arábia Saudita.

Outras implicações políticas também nasceram com o museu. Ele calou as bases cristãs do anti-semitismo europeu de modo a não ofender um poderoso eleitorado. Ele minimizou as cotas discriminatórias americanas de imigração antes da guerra, exagerou o papel dos americanos na libertação dos campos de concentração e silenciou sobre o maciço recrutamento de criminosos nazistas pelos EUA no final da guerra.
A mensagem que cobre com um arco o Museu é que “nós” sequer podemos entender, abandonados ao confinamento, tais maldades. O Holocausto “macula as sementes do ethos americano”, observa Michael Berembaum no livro que acompanha o museu.
“Vemos em (sua) execução uma violação de todos os valores americanos essenciais.” O Museu do Holocausto sinaliza a lição sionista de que Israel foi “a resposta apropriada ao nazismo” com as cenas finais de sobreviventes judeus lutando para entrar na Palestina.

A politização começa mesmo antes que alguém cruze a entrada do museu. Ele está situado na Raoul Wallenberg Place. Wallenberg, um diplomata sueco, é homenageado porque resgatou milhares de judeus e acabou numa prisão soviética. Seu colega sueco, conde Folke Bernadotte, não é honrado porque, embora ele também tenha resgatado milhares de judeus, o ex-primeiro-ministro israelense Yitzak Shamir ordenou seu assassinato por ser igualmente “pro-árabe”.

A charada política do Museu do Holocausto, no entanto, é que devia ser
lembrada. Teriam sido os judeus as únicas vítimas do Holocausto, ou outros que também morreram na perseguição nazista deveriam entrar como vítimas?

Durante os estágios de planejamento do museu, Elie Wiesel (com Yehuda Bauer do Yad Vashem) comandou a ofensiva para homenagear apenas os judeus. Aclamado como “especialista incontestável do período do Holocausto”, Wiesel argumentou com tenacidade a favor da proeminência dos judeus como vítimas. “Como sempre, eles começam pelos judeus”, sublinhou. “Como sempre, eles não param nos judeus.” Mesmo não tendo sido os judeus mas os comunistas as primeiras vítimas
políticas, não os judeus, mas os deficientes físicos e mentais as primeiras vítimas do genocídio nazista. Justificar a não inserção do genocídio cigano foi o principal desafio do Museu do Holocausto. Os nazistas mataram quase meio milhão de ciganos com perdas proporcionais iguais ao do genocídio judeu. Escritores do Holocausto como Yehuda Bauer sustentaram que os ciganos não foram vítimas do mesmo genocídio furioso dos judeus. Historiadores respeitados do Holocausto como Henry Friedlander e Raul Hilberg, no entanto, afirmam o contrário.

Múltiplas razões estiveram por trás da marginalização por parte do museu genocídio cigano.
Primeiro: não se pode comparar a perda de ciganos com a vida judaica. Ridicularizando o apelo por uma representação dos ciganos no US Holocaust Memorial Council (Conselho Americano do Memorial do Holocausto) como “lunático”, o diretor-executivo, rabino Seymour Siegel, duvidou até da “existência” deles como povo: “Deve haver algum reconhecimento ou conhecimento do povo cigano (...) se é que isso existe.” Ele admitiu, no entanto, ter “havido algum sofrimento sob os nazistas”. Edward Linenthal lembra as “profundas suspeitas” dos representantes ciganos do conselho, “abastecidas pela clara evidência de que alguns membros do conselho sentiram a participação deles no museu da mesma forma como uma família lida com os indesejáveis, embaraçando os parentes”.
Segundo: reconhecer o genocídio cigano significava a perda de uma marca exclusiva dos judeus no Holocausto, com uma considerável perda do “capital moral” judaico.
Terceiro: se os nazistas perseguiram tanto ciganos quanto judeus, ficava insustentável o dogma de que O Holocausto marcou o clímax do ódio não-judeus estimulou o genocídio judaico, não teria ela igualmente incitado o genocídio cigano? Na exposição permanente do museu, as vítimas não-judaicas do nazismo recebem apenas um tostão de reconhecimento."

Não se esqueçam que Norman Finkelstein vai estar em Lisboa, no dia 29 de Setembro às 18h30 no Auditório da Escola Secundário Luís de Camões para uma conferência com o título “The repercussions of Israel’s Cast Lead Operation for the future of its occupation of the Palestinian territories".

Também no Porto, dia 30 de Setembro às 18h00 na Cooperativa Árvore: uma conferência com o título “The repercussions of Israel’s Cast Lead Operation for the future of its occupation of the Palestinian territories".

Finalmente, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, dia 1 de Outubro às 11h00: uma conferência com o título “Mythsand Realities of the Israel-Palestinian conflict”.



3 comentários:

Anónimo disse...

Finkelstein incomoda os "bons"

Anónimo disse...

http://fernandosilva.multiply.com/journal/item/44/44
"Como é possível que 2 milhões de israelitas [*] tenham sobrevivido por 40 anos no deserto do Sinai, junto com seus animais e carregados com o tesouro dos egípcios [**]? "

(Qualquer semelhança com o "Holocau$to" é "mera coincidência"!!)

Diogo disse...

«Sete grandes museus do Holocausto se espalham pela paisagem americana. A peça central deste exercício de memória é o Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos em Washington.»

Os judeus ricos escolheram os EUA como nova pátria.

Em Israel, um porta-aviões americano, estão alguns judeus pobres.